Homem-Macaco

Sátira sobre o mundo moderno numa canção genial

Muitas vezes já me peguei pensando em como seria viver isolado do chamado "Mundo-Civilizado". A questão é que as cidades grandes trazem várias oportunidades e comodidades, mas também trazem o stress, a ganância, a desumanização. Paradoxalmente, quanto maior a cidade, menos humanas são as pessoas que vivem nela. Pensando nisso, os Kinks gravaram uma canção incrível há mais de 40 anos atrás (imagine se escrevessem a peça hoje). Faz parte do disco "Lola versus Powerman and the Moneygoround, Part One", de 1970. Segue a letra:




Apeman
(Davies)

I think I'm sophisticated
'Cos I'm living my life like a good homosapien
But all around me everybody's multiplying
Till they're walking round like flies man

So I'm no better than the animals sitting in their cages
in the zoo man
'Cos compared to the flowers and the birds and the trees
I am an ape man

I think I'm so educated and I'm so civilized
'Cos I'm a strict vegetarian
But with the over-population and inflation and starvation
And the crazy politicians

I don't feel safe in this world no more
I don't want to die in a nuclear war
I want to sail away to a distant shore and make like an ape man

I'm an ape man, I'm an ape ape man
I'm an ape man I'm a King Kong man I'm ape ape man
I'm an ape man

'Cos compared to the sun that sits in the sky
compared to the clouds as they roll by
Compared to the bugs and the spiders and flies
I am an ape man

In man's evolution he has created the cities and
the motor traffic rumble, but give me half a chance
and I'd be taking off my clothes and living in the jungle

'Cos the only time that I feel at ease
Is swinging up and down in a coconut tree
Oh what a life of luxury to be like an ape man

I'm an ape, I'm an ape ape man, I'm an ape man
I'm a King Kong man, I'm a voo-doo man
I'm an ape man

I look out my window, but I can't see the sky
'Cos the air pollution is fogging up my eyes
I want to get out of this city alive
And make like an ape man

Come and love me, be my ape man girl
And we will be so happy in my ape man world
I'm an ape man, I'm an ape ape man, I'm an ape man
I'm a King Kong man, I'm a voo-doo man
I'm an ape man

I'll be your Tarzan, you'll be my Jane
I'll keep you warm and you'll keep me sane
and we'll sit in the trees and eat bananas all day
Just like an ape man

I'm an ape man, I'm an ape ape man, I'm an ape man
I'm a King Kong man, I'm a voo-doo man
I'm an ape man.

I don't feel safe in this world no more
I don't want to die in a nuclear war
I want to sail away to a distant shore
And make like an ape man

Vamos à andança...


Uma das características mais bacanas das bandas de rock dos anos 60 - sobretudo nas inglesas - era seu humor despojado. Em Apeman, os Kinks usaram justamente a piada e a ironia para colocarem seu protesto quanto às desvantagens da vida na cidade. Após uma forte buzina, a canção inicia de forma tranquila, com acordes suaves do compositor Ray Davies. Seguindo a mesma linha, ele começa declamando as estrofes em sua mais polida educação. Repare no sotaque inglês que colabora e muito para a piada. Ele diz: "Eu acho que sou tão educado e tão civilizado porque sou estritamente vegetariano. Mas com a superpopulação, com a inflação e a inanição, além dos políticos malucos, eu não me sinto mais seguro nesse mundo. Eu não quero morrer numa guerra nuclear. Eu quero viajar pra uma praia bem longe e viver como um homem-macaco". Vale lembrar que essa última parte vem de uma virada excelente na instrumentação, onde Ray puxa ainda mais o vocal. Ao fundo os backing vocals o acompanham de forma bastante agradável. Logo após a palavra "Apeman", uma nova virada transforma a canção. O piano de John Gosling domina o balanço ótimo e a bateria de Mick Avory sofre pancadas mais pesadas. Os backings novamente se unem para cantar alegremente: "Sou um homem-macaco, sou um homem King-Kong, um homem-Voodoo, um homem-macaco". Esse refrão é sensacional, com um ritmo primoroso e, ao mesmo tempo, divertido. Logo Davies solta uma das partes mais engraçadas da obra, praticamente falando: "Na evolução do homem, ele criou as cidades e o barulho do motor. Mas me dê apenas meia chance e eu tirarei minhas roupas e viverei na floresta. Pois a única hora em que eu me sinto tranquilo é balançando pra cima e pra baixo num coqueiro. Oh, que vida de luxo essa de homem-macaco". Apesar do tom de comédia, os Kinks não estão nem um pouco malucos com essa ideia de homem-macaco. Só estavam cansados de tanta correria, de tanta briga por dinheiro e de tantas pessoas que pouco se preocupam umas com as outras. É mais ou menos a ideia de Christopher McCandless (foto acima), um dos grandes mestres do mundo moderno que, aos 20 anos descobriu que não se encaixava nesse mundo de poucos valores. Então ele decide viver por conta própria, livre do dinheiro e das preocupações mundanas, na "Natureza Selvagem" - nome este que por sinal foi dado ao livro que conta sua história. Posteriormente o livro virou um ótimo filme com o mesmo nome, originalmente chamado "Into the Wild". Vale a pena ver o filme ou ler o livro e aprender com esse herói. Em mais um verso inspirado Davies canta: "Eu tento olhar pela janela, mas não consigo ver o céu, a poluição embaça os meus olhos. Quero sair vivo dessa cidade e fazer como um homem-macaco". Embora não tenham ido tão longe quanto McCandless, os Kinks deixaram em Apeman sua marca anti-civilização 'moderna' e desumana. Ao menos ouvindo é possível escapar um pouco ;)

Nunca ouviu?

Por 3 minutos faça como um homem-macaco. Escute:

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